O trabalho de tradução e interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma ponte essencial para a inclusão da comunidade surda em diversos contextos sociais. No entanto, quando olhamos para quem ocupa essas posições, é urgente refletir sobre a representatividade — especialmente de pessoas LGBTQIANP+ — dentro desse mercado de trabalho.

Dificuldades e Barreiras Enfrentadas

Apesar dos avanços legais e sociais, pessoas LGBTQIANP+ ainda enfrentam barreiras significativas para entrar e permanecer em espaços profissionais — e o mercado de tradução e interpretação de Libras não é exceção. Algumas das principais dificuldades incluem:

• Preconceito estrutural: Em muitos ambientes de trabalho, a presença de pessoas LGBTQIANP+ ainda é vista com estranhamento. Isso pode se manifestar em forma de microagressões, discriminação velada ou direta e falta de oportunidades para crescimento profissional.

• Falta de políticas inclusivas: Muitos locais que contratam intérpretes de Libras — como escolas, empresas, instituições religiosas ou governamentais — não têm políticas claras de diversidade e inclusão, o que dificulta a permanência de pessoas LGBTQIANP+ nesses espaços.

• Invisibilização profissional: Mesmo quando presentes, profissionais LGBTQIANP+ são, muitas vezes, apagados ou não reconhecidos. A orientação sexual ou identidade de gênero pode ser vista como “irrelevante” ou até “desconfortável”, o que leva muitos a esconderem partes fundamentais de suas identidades no ambiente de trabalho.

• Desigualdade regional: Em cidades menores ou regiões mais conservadoras, o preconceito pode ser ainda mais intenso, tornando quase inviável a atuação de intérpretes LGBTQIANP+ de forma aberta e segura.

Por que é importante ocupar esse espaço?

A presença de tradutores e intérpretes LGBTQIANP+ no mercado de Libras é mais do que uma questão de diversidade — é uma questão de acesso, representatividade e transformação social.

1. Representatividade importa. Ter profissionais LGBTQIANP+ atuando na interpretação de Libras ajuda a quebrar estereótipos e mostra para a comunidade surda (e ouvinte) que corpos diversos têm espaço e voz em todos os lugares.

2. Empatia e compreensão cultural. Pessoas LGBTQIANP+ muitas vezes compartilham vivências de marginalização e exclusão com outras minorias. Isso pode trazer uma sensibilidade especial ao interpretar contextos sociais complexos e situações de vulnerabilidade.

3. Criação de redes de apoio. Quando um profissional LGBTQIANP+ está presente, especialmente em eventos comunitários ou espaços educacionais, isso pode abrir portas para conversas importantes sobre inclusão, direitos e respeito às identidades.

4. Mudança institucional. A presença de profissionais LGBTQIANP+ pode ajudar instituições a repensarem suas práticas, políticas e formas de atendimento à diversidade — algo que beneficia a todos.

O que pode ser feito?

Para promover um mercado de trabalho mais justo e acessível para tradutores intérpretes de Libras LGBTQIANP+, é preciso um esforço coletivo:

• Adoção de políticas inclusivas e afirmativas por parte de empresas e instituições.

• Capacitação contínua com enfoque em diversidade, tanto para profissionais quanto para contratantes.

• Visibilidade para esses profissionais em eventos, congressos e espaços de formação.

• Fomento a redes de apoio e coletivos que ajudem profissionais LGBTQIANP+ a trocar experiências e se fortalecerem mutuamente.

A luta por um mercado mais diverso e inclusivo não se limita a números ou estatísticas. Ela passa por reconhecer e valorizar as vivências de profissionais LGBTQIANP+ que, mesmo diante de tantos obstáculos, seguem transformando a comunicação e a acessibilidade. Garantir espaço para essas pessoas no campo da Libras é garantir que a inclusão seja, de fato, para todos.

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